Por Camilo Neira
O mundo é outro, cada vez mais dependente e absorvido pelo mundo digital e a tecnologia. Um caso claro disso, são os eSports, que crescem e se consolidam como modalidade no Brasil e no mundo inteiro. Porém, se é uma modalidade esportiva ou de entretenimento, ainda é dúvida.
Antes os videogames eram considerados um hobby, algo para se divertir e curtir junto com os amigos. Hoje, fazem parte de uma indústria multimilionária que em 2017 foi avaliada em US1,5Bi e que crescerá 26% até 2020, segundo a firma de pesquisa digital americana Superdata.
Tudo isso levou a que se gerasse um debate sobre se deve ou não ser considerado um esporte. Algumas vozes mais tradicionalistas do esporte acreditam que não pode ser considerado assim, porque não é uma atividade que requer esforço físico (ou sequer a envolve), além de nunca ter sido considerada como uma modalidade dentro do esporte e, em alguns casos, tem chegado ao extremo de descreditar essa noção.
Do lado do segmento gamer e de eSports, é considerado um esporte sim, um esporte em si mesmo*. Os eSports têm vida própria, têm um cenário crescente com um potencial gigantesco e cada vez mais posicionados como uma indústria forte e atrativa para empresas (pelo target que envolve), mídia (aqui na mídia mais tradicional começou com Esporte Interativo e rapidamente chegou nos outros canais fortes de esportes), investidores e jogadores, entre muitos outros stakeholders que fazem parte da indústria. Além disso, o fato de ser uma modalidade que demanda estratégia, disciplina, preparação e prática constante para conseguir os resultados desejados reforçam esse argumento.
Inclusive, existem muitos elementos que direta ou indiretamente aproximam eles ao esporte. Como o fato de ter jogadores, times (com rankings, https://www.ranker.com/list/best-esports-teams/ranker-games), treinadores, estruturas administrativas e empresariais atrás dos times, patrocinadores, torneios, narradores, torcedores, prêmios (https://www.esportsearnings.com/teams), melhores jogadores, tudo que se pode ver usualmente em uma liga ou competição esportiva. O principal fato que gera receio para denomina-lo como esporte é, como se mencionou, a falta de esforço físico que caracteriza as modalidades mais tradicionais.
Atualmente muitos times profissionais de diferentes esportes (futebol, basquete, hóquei, futebol americano) e ligas (Ligue 1, Premier League, Serie A, NHL, MLS, NBA, entre outras) têm enxergado um grande potencial nos eSports e por isso decidiram abrir seus próprios times** para aproveitar o crescimento da indústria e o grande mercado que podem atingir fazendo parte dele, algo que não necessariamente estão conseguindo com as modalidades mais tradicionais.
Nessa linha, é que cada vez se enxerga como uma possibilidade mais real ele ser considerado um esporte, até o ponto de estar sendo considerado para ser uma modalidade dos Jogos Olímpicos, se falando que pode chegar tão rápido (talvez já em Paris 2024). O fato de atingir um target, que com os esportes tradicionais não está se conseguindo, e dar uma renovação para o público que assiste, seriam as principais razões. Já se fez um teste antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyongChang em fevereiro desse ano, onde o COI permitiu que um torneio de Starcraft II fosse jogado dois dias antes das olimpíadas e que pudesse associar ao torneio os aros olímpicos, algo que antes era considerado muito difícil.
Já para os Jogos Asiáticos de 2022, que serão sediados em Hanghzou, China, os eSports serão considerados esporte com direito à medalha. Assim que cada vez mais os passos que aproximam os eSports da tão desejada validação e aprovação como esporte.
O que é muito claro é que o debate está cada vez mais aberto e os eSports cada vez permeiam mais, não só o segmento esportivo, como muitas outras esferas da sociedade, ganhando maior relevância e espaço em áreas diversas como: indústria, governo e leis, academia, investimento, psicologia, entre outros.
Agora qual será o futuro da modalidade no Brasil? Difícil saber, até pelo fato de enfrentarmos a provável extinção do Ministério de Esporte e, com isso, o caminho mais provável para regulamentar e poder fazer dela um segmento e indústria que possa se posicionar devidamente. Com certeza, seu desenvolvimento não ficará sujeito a isso, porém ficará condicionado em determinadas questões.
Bom, o veredito ainda está por vir. Qual a sua opinião, os eSports devem ser considerados um esporte ou não?
*Vídeo promocional de Riot Games, criador do League of Legends falando sobre a disjuntiva entre se os Esports são ou não um jogo. https://youtu.be/j5QahFFHv0I.
**Matéria da Forbes sobre as empresas (”times”) mais valiosas de Esports, https://www.forbes.com/sites/mikeozanian/2018/10/23/the-worlds-most-valuable-esports-companies-1/.